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sábado, 23 de novembro de 2013

Volta a Portugal - Mestrado

Mais de um ano depois, eis-nos aqui outra vez. Os bons desejos de vocês, muitas vezes manifestos nos comentários, concretizaram-se: estou de volta a Portugal, fazendo o Mestrado (que queria) em Estudos Literários, Culturais e Interartes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

FLUP











Vim para cá em julho, quando fiz a seleção, e as aulas começaram em setembro. A seleção consistiu em uma análise de currículo, em que pesava o histórico da licenciatura e a atuação acadêmica (publicação de artigos, participação em eventos etc.). Houve ainda uma entrevista (não se trata de uma arguição de projeto), na qual duas professoras me fizeram perguntas sobre o meu percurso até então, a minha motivação para o curso, os temas que pretendia estudar. Vale ressaltar que para mim ainda não estava (nem está) claro em que vai consistir a minha dissertação, mas isso aqui não é empecilho para a entrada no curso. Fiquei colocada em 5.º lugar, juntamente com muitos brasileiros, portugueses e até um sul-coreano!

Há dois ramos no curso: o de Estudos Comparatistas e Relações Interculturais e o de Estudos Românicos e Clássicos, tendo este último seis variantes, das quais escolhi a de Literatura Portuguesa, Literaturas de Língua Portuguesa (Língua Portuguesa e Educação). Isso não nos impede de escolhermos cadeiras de outro ramo ou de outras variantes, mas a maior parte das cadeiras escolhidas tem de ser do ramo pré-definido. Desta forma, escolhi só duas cadeiras do ramo de E. Comparatistas, que são Literatura Comparada: Questões e Perspectivas e  Tradução e Cultura. Mesmo que eu não venha a desenvolver o meu trabalho final neste âmbito, tem sido muito útil para mim o estudo destas disciplinas no que tange ao alargamento da minha visão das relações literárias e culturais entre os países e do processo de construção das histórias da literatura (nacionais/internacionais).

- As restantes cadeiras, a quem interesse saber, são, no 1.º semestre: Rupturas e Continuidades na Poesia Portuguesa Contemporânea-1 , Novíssimos: Poesia e Poéticas e Poéticas Finisseculares - séc. XIX e XX-1, formando um total de cinco unidades curriculares. No próximo semestre, curso mais cinco e, no próximo ano letivo (que começa em setembro/2014), devo iniciar a escrita da dissertação (que deverá durar um ano).

Escolhi estas unidades curriculares para tentar construir uma visão mais bem fundamentada do modernismo e da literatura contemporânea, estudando desde os seus precursores (de fins do séc. XIX) até a produção poética mais recente ("novíssimos" - pelos anos 2000). Tudo tem se articulado bem e eu acho que tenho conseguido estabelecer relações significativas entre as matérias. Já pensei em tratar da poesia brasileira contemporânea na minha dissertação, mas ainda não defini o aspecto a ser estudado. Talvez o hibridismo de gêneros artísticos.

Biblioteca da FLUP

As diferenças entre o ensino (não só universitário) português e o brasileiro mereceriam uma postagem à parte, mas, para já, vou ser breve: o mestrado, em ambos os países, é já de si uma certa ruptura com o ambiente da graduação, que seria, digamos, mais permissivo, onde teríamos mais espaço para errar. No mestrado, temos que evitar afirmações despropositadas ou não-fundamentadas. Aqui em Portugal, então, sinto isso com mais intensidade, pelo fato de a relação professor-aluno ser, em geral, diferente daquilo com que estamos acostumados no Brasil. 

Nas escolas brasileiras, desde a educação básica, a figura do professor aproxima-se da de um amigo (o que, às vezes, tem consequências ruins, claro); quer dizer, por mais que haja uma hierarquia de saberes, o professor tenta não constranger tanto o aluno pelo fato de ele ainda não saber determinada coisa. Aqui, por outro lado, em meio às minhas aulas na universidade e em uma Escola Primária que tive ocasião de visitar, percebo uma relação um pouco diferente, em que o distanciamento é maior e a diferença de saberes é bastante enfatizada. Mas isto é assunto para um próximo texto.

Biblioteca da FLUP
Espero que este relato ajude quem pensa em vir para cá estudar. Se tiverem perguntas, não hesitem em fazê-las, seja por comentários, seja por email.

Até a próxima! :)


4 comentários:

  1. Oi, Renata. Primeiro, três coisas. 1) que eu gosto de, pelo menos duas ou três vezes por comentário, enumerar coisas sem propósito algum. Isso se chama estilo; 2) Feliz que tu estejas bem; e 3) é claro que eu leio teu blog. ;)
    Sobre as diferenças entre professores portugueses e brasileiros:
    não sei se por conta de a formação de boa parte dos professores da USP ter sido no exterior, mas sinto a mesma coisa por aqui.
    Mas mais do que distância professor-aluno, acho que o que me chamou atenção logo quando mudei foi o fato de eles darem créditos a si mesmos, sem o menor receio de serem punidos por, sei lá, alguma divindade que nos obriga sempre a dizer um "que nada" quando alguém nos elogia em algum aspecto.
    Algo do tipo: "Se minha pesquisa é boa? Sim, é boa. E mais que isso, é melhor que a de fulano, sicrano e beltrano por conta disso, disso e disso."
    Acho que no Maranhão isso daria inferno na certa, né?!
    Por outro lado, acredito que no final das contas isso nos ajuda a perder um pouco o "coitadismo" que muitas vezes, ainda que contra nossa vontade, nos assola. A gente também tem que aprender a vender nosso peixe sem culpa, senão ninguém compra.
    E assim, metaforicamente, me despeço.
    E lembre-se: sardinha nenhuma é párea pro teu salmão.
    Arthur

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    1. Lembrei das histórias que tu tinhas contado sobre os profs. quando escrevi isso :) é, acho que quanto menor o lugar, maior a simplicidade... mas também maior esse "coitadismo" de que tu falaste, aquele "encabulamento" que nos impede muitas vezes de discutir ideias e de avançar.
      Haha adorei a tua metáfora E o teu estilo :D
      Abração e valeu por ler meu blog ^^ também quero ler uma consequência do ócio! :*

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  2. Olá, você fez um comentário no meu blog (Desmazelas) e vim conhecer o seu. Eu estou me formando em Letras/Literatura e estou muuuito interessada em fazer mestrado fora da minha cidade. E a oportunidade de poder estudar em outro país também é fascinante. Como foi o processo que você passou para poder conseguir ingressar no mestrado na Universidade do Porto, foi muito complicado?

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    1. Olá, Faby =) Eu vim fazer o mestrado por conta própria; já tinha também planos de me casar, o que me daria direito a residir no país. Se eu fizesse o pedido de residência (porque nós, brasileiros, temos direito a 3 meses, renováveis - só por muito boas razões e papeladas - por mais 3) por causa do mestrado, a burocracia seria bem maior e havia chances de não ser aceito porque, em tese, devemos pedir visto de estudante antes de sair do nosso próprio país.

      Foi isso que eu fiz em 2010, quando vim para cá pela primeira vez (como está descrito em outras postagens). Vim fazer apenas 1 semestre do curso de Letras, em mobilidade acadêmica permitida por um acordo que existe entre a UFMA e a U.Porto. Todas as federais, imagino eu, têm um departamento que trata das relações internacionais da universidade, e é lá que vc encontra informações sobre isso. Eu vim sem bolsa, o que foi chato; mas agora há uns programas com bolsa.

      Espero ter sido clara; qualquer dúvida, pergunte! :) beijos!

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